Religião e violência
No
senso comum, religião é entendida como prática religiosa. Religião e
religiosidade são conceitos completamente diferentes. Religiosidade é uma
condição inata, um atributo que nasce com o homem, natureza construtiva que o
impele para viver em paz, social e individualmente. Religião é instituição
humana, criada por homens, cujo objetivo é cultuar entidades divinizadas (Deus,
Buda, Alá, Maomé, etc) cultuadas como superiores á natureza humana. As
religiões são instituições com ideologias polimorfas, com rituais diferenciados
(culto, missa), com representantes personificados (pastor, padre, rabino) e com
hierarquia e funcionamento semelhantes aos de uma empresa, no que se refere á
administração de bens, estrutura de organização e objetivos a atingir. Algumas
diferenças podem ser percebidas entre um conceito e outro, por exemplo:
Religiosidade é condição atemporal, individual, inerente ao plano da imaginação
e do sentimento; religião é temporal, grupal, ideológica, socialmente
organizada.
Religião se organiza por dogmas e hierarquia do grupo religioso; religiosidade
se manifesta por atos mediados pelo bom senso (índole) individual.
Religiosidade é manifestação desvinculada de interesses materiais e
corporativos; religião é influenciada por esses fatores.
Religião se origina da formação de classes numa sociedade (elites):
governantes, sacerdotes, militares; religiosidade é uma condição intrínseca ao
“modo de ser” espiritual de cada indivíduo.
Religião e Estado são instâncias de poder numa sociedade, com influência
política e com objetivos diversificados.
Religião é conduzida por pessoas e pode levar á violência quando seus líderes
mobilizam grupos para objetivos destrutivos (fanatismo).
Ser religioso significa ser bom e
construtivo em relação a si mesmo e aos outros. É pensar e sentir coletivamente
(“ama a teu próximo como a ti mesmo”), um princípio construtivo de eqüidade,
solidariedade e justiça, condições dirigidas para a paz e harmonia. Pertencer a
uma religião é associar-se a um grupo de homens que professam uma crença determinada,
afiliar-se á uma instituição religiosa e seguir seus preceitos. Portanto, nem
sempre o homem expressa sua religiosidade, ao pertencer a um grupo religioso.
Ele pode usar o “rótulo religioso” para alcançar objetivos individuais ou de
grupo. Portanto, a prática religiosa nem sempre está vinculada à
religiosidade.
A condição de crença religiosa não
necessita de conhecimento e nem de prova; a condição de conhecimento sim, pois
é sempre uma verdade provisória, e como verdade (científica) é relativa e mutável.
A condição da crença religiosa nem sempre é verdadeira, a não ser para o
crente. Os determinismos científicos ou religiosos são condições que, levadas
ao extremo, prejudicam o bom senso e alteram a convivência. As verdades existem
espalhadas e não concentradas num só ponto. É necessário saber catá-las em toda
a extensão do terreno. E podem ser misturadas, porque são compatíveis. O que
seria dos olhos sem as pálpebras?
Como explicar a polimorfia religiosa e sua evolução desde
os tempos do politeísmo na antigüidade, ao monoteísmo das sociedades
civilizadas? Um dos preceitos fundamentais das religiões está contido na frase:
“paz na Terra aos homens de boa vontade...”; pelo número escandalosamente
grande de religiões que possuímos, por que esse objetivo ainda não foi
alcançado? A religiosidade tem sido usada atualmente por algumas empresas que
se auto-intitulam de “igrejas” para alcançarem metas financeiras. Será que a
centralização numa entidade superior única (Deus, Jesus, Buda, Maomé) melhora a
essência da religiosidade e se reflete no comportamento humano
equilibrado?
Se
não me falha a memória li um livro em que o historiador conta que foi
Diocleciano, um imperador romano, quem criou e difundiu o primeiro conceito de
Deus único e todopoderoso. Conta que, aconselhado por um sacerdote, criou um
Deus que centralizasse todas as crenças numa única crença. Segundo o sacerdote
isso lhe proporcionaria maior atenção e grande poder sobre o povo. Deveria
dar-lhe um nome bastante significativo e proibir todas as outras crenças,
decretando severas sanções para os que não obedecessem o seu decreto. Como vê,
os sacerdotes e os dirigentes daquela época já sabiam como manipular as pessoas
para aumentar seu poder.
Livaldo,
você e todos os seres humanos possuem o direito de escolher suas próprias
verdades. Nunca esqueça, porém, que elas são individuais...! Embora tenha
nascido de uma família católica, optei por não me filiar a nenhuma das
religiões existentes, pois acredito que todas elas foram criadas pelos homens;
continuo fortalecendo minha religiosidade pois ela me faculta a oportunidade de
ser construtivo e religioso no melhor sentido da palavra. Com ela consigo
conviver bem com todos e me sentir feliz. Não acredito em ateu, pois esse é com
certeza um blefe, uma condição incompatível com a natureza humana. Use sua
crença com liberdade porque todo cidadão deve se sentir livre e feliz com suas
verdades.
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