sexta-feira, 1 de maio de 2015

Religião e violência

 No senso comum, religião é entendida como prática religiosa. Religião e religiosidade são conceitos completamente diferentes. Religiosidade é uma condição inata, um atributo que nasce com o homem, natureza construtiva que o impele para viver em paz, social e individualmente. Religião é instituição humana, criada por homens, cujo objetivo é cultuar entidades divinizadas (Deus, Buda, Alá, Maomé, etc) cultuadas como superiores á natureza humana. As religiões são instituições com ideologias polimorfas, com rituais diferenciados (culto, missa), com representantes personificados (pastor, padre, rabino) e com hierarquia e funcionamento semelhantes aos de uma empresa, no que se refere á administração de bens, estrutura de organização e objetivos a atingir. Algumas diferenças podem ser percebidas entre um conceito e outro, por exemplo: 
        Religiosidade é condição atemporal, individual, inerente ao plano da imaginação e do sentimento; religião é temporal, grupal, ideológica, socialmente organizada.
        Religião se organiza por dogmas e hierarquia do grupo religioso; religiosidade se manifesta por atos mediados pelo bom senso (índole) individual.
        Religiosidade é manifestação desvinculada de interesses materiais e corporativos; religião é influenciada por esses fatores.
        Religião se origina da formação de classes numa sociedade (elites): governantes, sacerdotes, militares; religiosidade é uma condição intrínseca ao “modo de ser” espiritual de cada indivíduo.
        Religião e Estado são instâncias de poder numa sociedade, com influência política e com objetivos diversificados.
        Religião é conduzida por pessoas e pode levar á violência quando seus líderes mobilizam grupos para objetivos destrutivos (fanatismo).  
Ser religioso significa ser bom e construtivo em relação a si mesmo e aos outros. É pensar e sentir coletivamente (“ama a teu próximo como a ti mesmo”), um princípio construtivo de eqüidade, solidariedade e justiça, condições dirigidas para a paz e harmonia. Pertencer a uma religião é associar-se a um grupo de homens que professam uma crença determinada, afiliar-se á uma instituição religiosa e seguir seus preceitos. Portanto, nem sempre o homem expressa sua religiosidade, ao pertencer a um grupo religioso. Ele pode usar o “rótulo religioso” para alcançar objetivos individuais ou de grupo. Portanto, a prática religiosa nem sempre está vinculada à religiosidade. 
A condição de crença religiosa não necessita de conhecimento e nem de prova; a condição de conhecimento sim, pois é sempre uma verdade provisória, e como verdade (científica) é relativa e mutável. A condição da crença religiosa nem sempre é verdadeira, a não ser para o crente. Os determinismos científicos ou religiosos são condições que, levadas ao extremo, prejudicam o bom senso e alteram a convivência. As verdades existem espalhadas e não concentradas num só ponto. É necessário saber catá-las em toda a extensão do terreno. E podem ser misturadas, porque são compatíveis. O que seria dos olhos sem as pálpebras? 
Como explicar a polimorfia religiosa e sua evolução desde os tempos do politeísmo na antigüidade, ao monoteísmo das sociedades civilizadas? Um dos preceitos fundamentais das religiões está contido na frase: “paz na Terra aos homens de boa vontade...”; pelo número escandalosamente grande de religiões que possuímos, por que esse objetivo ainda não foi alcançado? A religiosidade tem sido usada atualmente por algumas empresas que se auto-intitulam de “igrejas” para alcançarem metas financeiras. Será que a centralização numa entidade superior única (Deus, Jesus, Buda, Maomé) melhora a essência da religiosidade e se reflete no comportamento humano equilibrado?  
 Se não me falha a memória li um livro em que o historiador conta que foi Diocleciano, um imperador romano, quem criou e difundiu o primeiro conceito de Deus único e todopoderoso. Conta que, aconselhado por um sacerdote, criou um Deus que centralizasse todas as crenças numa única crença. Segundo o sacerdote isso lhe proporcionaria maior atenção e grande poder sobre o povo. Deveria dar-lhe um nome bastante significativo e proibir todas as outras crenças, decretando severas sanções para os que não obedecessem o seu decreto. Como vê, os sacerdotes e os dirigentes daquela época já sabiam como manipular as pessoas para aumentar seu poder.
Livaldo, você e todos os seres humanos possuem o direito de escolher suas próprias verdades. Nunca esqueça, porém, que elas são individuais...! Embora tenha nascido de uma família católica, optei por não me filiar a nenhuma das religiões existentes, pois acredito que todas elas foram criadas pelos homens; continuo fortalecendo minha religiosidade pois ela me faculta a oportunidade de ser construtivo e religioso no melhor sentido da palavra. Com ela consigo conviver bem com todos e me sentir feliz. Não acredito em ateu, pois esse é com certeza um blefe, uma condição incompatível com a natureza humana. Use sua crença com liberdade porque todo cidadão deve se sentir livre e feliz com suas verdades.

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