sexta-feira, 1 de maio de 2015

Contribuição ao Estudo da Origem da Violência Humana e suas repercussões na convivência





Sr. presidente do senado, srs. senadores e senadoras

Sou um médico psiquiatra e psicoterapeuta analítico, mas sobretudo me sinto um cidadão brasileiro. E é nessa condição que apresento aos srs. elementos de contribuição para aperfeiçoar as leis que orientam a segurança pública no país. A partir de 1972 venho coletando e organizando anotações que, baseadas em fatos reais, ocorridos no dia-a-dia da vida dos brasileiros e de outros povos, veiculados pelas mídias, me permitiram elaborar conceitos com base na utilização de conhecimentos científicos e não-científicos que me facilitam hoje atuar com segurança no plano do comportamento violento, tanto no consultório como no nível das instituições.

Confesso que no início meu objetivo era o de compreender claramente fatores causais que mobilizassem comportamentos violentos na área da saúde mental, que eu classifico como “comportamentos reativos”. Devo dizer que quando percebi que a mera visão médica do problema não se mostrava satisfatória para analisar fatos reais e, muitas vezes, confundiram minhas observações, decidi elaborar um método mais abrangente que não comportasse apenas o acervo científico convencional, mas todo conhecimento que pudesse contribuir com uma compreensão mais clara e também pudesse ser simples para facilitar sua aplicação prática, não somente na área médica, mas em toda situação onde as relações humanas se produzem. Acredito que consegui ter uma visão ampla e multiculturalista dos comportamentos violentos e, com isso, ter maior facilidade para compreendê-los no âmbito individual, familiar e social. Hoje acredito que é com base nessa interconexão que os comportamentos reativos (violentos) se manifestam na convivência  e compõem o que chamamos de “problemas de segurança pública”.

Afirmo que é nessa interação dos níveis (individual, familiar e sociocultural) que os comportamentos se produzem e se manifestam. É desses indivíduos, dessas famílias e da forma de construir suas verdades e crenças, ou seja, da sua arquitetura cultural, que se organizam seus hábitos e costumes, suas normas e leis, que tentam equilibrar sua convivência.

Erros de abordagem

Sr presidente, srs. senadores e senadoras, considero aqui alguns erros de abordagem que dificultam o caminho de quem pretende compreender as situações do comportamento e dos interesses pessoais e de grupos, que se entrechocam na convivência social. Passo a enumerá-los:

  1. O sentir e o pensar individual e coletivo:

Costumo ver as sociedades humanas, na evolução histórica da humanidade, sob dois padrões diferentes e opostos segundo as formas de sentir, pensar, agir e conviver. As que não foram influenciadas pelo processo civilizatório e as que seguiram esse caminho no decorrer do tempo. As primeiras costumo chamar de “sociedades naturais”. São as que não se afastaram do convívio integrado com a Natureza e que evoluíram priorizando a figura humana e a qualidade das suas relações. As que foram influenciadas pelo processo civilizatório – que chamo de “sociedades domesticadas dependentes” – não priorizaram a figura humana e a qualidade das suas relações, invertendo suas relações e valores sociais.

As “sociedades naturais” não evoluíram científica e tecnologicamente, não produzem e nem acumulam bens de consumo. Essas sociedades, muito bem representadas pelos índios brasileiros não-aculturados, acreditam que seus sentimentos, seus princípios, sua religiosidade e seus valores essenciais residem num eixo cultural que abriga as tradições ancestrais de convívio pacífico e respeito sagrado a Natureza. Elas elegeram e usam, para manter a violência fora da convivência diária, padrões de sentir, pensar, agir e conviver coletivos. Não existem chefes que mandam e nem leis que obriguem nas sociedades naturais. O sentir e o pensar coletivo, com fortes raízes presas ao bom senso, prescindem dessas necessidades, próprias das sociedades que organizam os indivíduos em classes e posições sociais hierárquicas. Que confundem conceitos de desenvolvimento e progresso com produção de objetos e armamento bélico.

As “sociedades domesticadas dependentes”, que muitos chamam de “sociedades civilizadas”, seguiram caminho oposto. É visível que, nas sociedades que se autointitulam de civilizadas, o sentir e o pensar coletivo foram substituídos por formas de sentir e pensar individual ou de pequenos grupos com base em interesses materiais e de poder, para competir com outros grupos também materialistas. O respeito sagrado pela Natureza foi substituído pelo conceito de Natureza como “fonte de riqueza e poder”.

O realismo e a ausência de onipotência nas sociedades naturais as informa que a economia da natureza é de todos, é esgotável e se limita ao planeta. As sociedades domesticadas dependentes, pelo modo como seus indivíduos se comportam, acreditam que a biosfera é inesgotável, que seus bens devem ser disputados pelos mais fortes e que é possível conquistar outros planetas para explorar sem limites suas supostas riquezas. A natureza das ações humanas nas sociedades civilizadas é preponderante exploratória.

A lógica que me fez denominar as sociedades civilizadas como “sociedades domesticadas dependentes”, e as outras, como “sociedades naturais”, se baseia na constatação de que uma e outra se diferenciam a partir de suas estruturas econômicas e psicológicas. Certa vez me perguntei de onde se originam e como são partilhados os bens de consumo produzidos para a sobrevivência dos indivíduos a elas pertencentes. Nas primeiras acredito que o meio ambiente funciona como o supridor de alimentos e materiais para a confecção de implementos e utensílios que facilitam a vida, um verdadeiro supermercado natural que possui tudo o que é necessário para as condições de sobrevivência básica. Também percebi que o individuo nessas sociedades se sente em liberdade plena pelo fato de poder dominar a tecnologia necessária para sobreviver como: caçar, pescar, coletar ou preparar a terra para o cultivo. Sua liberdade é apenas limitada pelas normas de convivência do grupo baseadas em suas crenças, mas em compensação lhe dá a certeza de não ser totalmente (mas apenas parcialmente) dependente. Isso lhe dá uma grande tranqüilidade. Também sabe que pertencendo a um grupo que age coletivamente e seguindo suas tradições, sua vida ficará muito facilitada.

Nas “sociedades domesticadas dependentes”, percebe-se que o individuo se sente dependente do emprego, do dinheiro, das instituições e das mudanças internacionais que interferem nas economias do mundo globalizado. Sua economia faz parte de um outro universo diferente, cuja base não é mais a natureza. Não pode e não aprendeu a retirar da natureza os meios necessários para o seu sustento porque a natureza já não faz parte da sua rotina diária. E tornou-se concreta e psicologicamente dependente das ações de outros indivíduos que não pensam coletivamente. Domesticado porque aprendeu a obedecer e não a pensar com liberdade. Estará sempre sujeito aos grupos que defendem interesses com os quais muitas vezes não concorda, mas contra os quais não pode reagir pela sua condição de dependente. O homem civilizado está condenado a obedecer, a se sentir impotente e, portanto, a se sentir reativo. Sua reatividade se origina de suas insatisfações e freqüentemente são expressadas por comportamentos reativos violentos.

Aspectos políticos, econômicos, sociais e religiosos dos dois grupos de sociedade são diferentes e geram resultados diferentes no comportamento individual. Uma das diferenças reside na manifestação do comportamento violento no interior delas. Vale a pena compreender porque não existem “problemas de segurança pública” nas sociedades naturais.

Não é meu objetivo aqui aprofundar demais o assunto sobre qual é a melhor forma de organização social, srs. senadores e senadoras. Minha pretensão é compreender e analisar diferentes fatores que influenciam no aparecimento do fenômeno da violência, tomando como base a evolução histórica das sociedades e também a sua evolução atual. Num trabalho intitulado A Origem da Violência, detalho de forma simples e compreensível aspectos desse tema.



  1. Visão estilhaçada dos fenômenos sociais:


Costumamos ver, organizar e analisar problemas da convivência como se fossem livros em uma estante (a de cima, a de baixo a do meio) ou departamentos estanques em uma empresa ( a direção, os recursos humanos, a limpeza), separando-as por graus de importância que lhes emprestamos aleatoriamente. Assim, também, separamos e rotulamos as manifestações da violência social (violência na família, crime organizado, crimes contra o patrimônio, violações dos direitos humanos, violações dos direitos internacionais). Nenhum desses rótulos nos ajudam a ter uma visão clara e integrada dos fatores causais desses fenômenos, portanto não nos permitem elaborar e empreender ações que atinjam com eficácia desejada esses problemas. Apesar das tentativas no “compreender e organizar” das sociedades que se autointitulam de civilizadas, muito pouco conseguimos no século passado e, pelo jeito, continuamos a repetir os erros antigos nesse século. Nos habituamos a aceitar os rótulos que criamos sem conecta-los entre si e sem compreendermos quais as razões da sua permanência e do seu agravamento. As “providências” que são tomadas pelas autoridades do Estado apenas arranham a superfície dos problemas ao se restringirem a planos operacionais e a remendar leis que já não funcionam.


  1. A natureza humana e o multiculturalismo:


Nós os brasileiros continuamos com o hábito colonizado de copiar modelos de outros paises como meros consumidores alienados. Somos uma nação mestiça e temos um acervo originado de diferentes outros povos, portanto somos resultado de experiências diversas, mas nunca nos interessamos em compor uma unidade que contenha toda a soma de vantagens da mestiçagem que nos é benéfica. Nossa identidade como nação não é valorizada como povo pacifico, alegre e criativo. Dizem alguns dirigentes que no futuro poderemos ser uma grande potência do planeta. Para mim a grande potência é aquela que consegue extirpar a violência do convívio, introduzindo sentimentos e pensamentos coletivos, para alcançar a  paz e a alegria na vida dos indivíduos.

Sobre a natureza humana, desde 1971 sigo com admiração e respeito o que aprendi como a sabedoria máxima. Essa sabedoria foi extraída de práticas ianomâmi e percebidas pelo etnólogo francês Pierre Clastres. Traduzida em palavras poderia ser compreendida assim: “A natureza humana é por demais frágil e nunca conseguirá lidar de forma equilibrada com grande volume de poder”. Para mim isso explica porque sistemas de organização político-sociais civilizados, tentados desde o início da civilização, nunca conseguiram, através dos tempos, manter em harmonia a convivência pacífica  interna dentro das sociedades e as relações externas com outras sociedades diferentes. As relações internacionais no mundo atual continuam fazendo a mesma coisa.

Comportamento reativo e comportamento violento são sinônimos. As organizações dos estados nacionais são apenas tentativas de manter as relações sociais com o mínimo de conflito. Por enquanto são só tentativas.

É possível contar nos dedos, após invasão e saque de povos europeus em nossa terra, quantos conflitos internos e externos, de grande porte, tivemos nesses quinhentos anos. Disso podemos nos orgulhar.


Um breve histórico dos passos que foram seguidos

Srs. senadores e senadoras, para atender a curiosidade de alguns dos senhores que poderiam perguntar como cheguei a essas conclusões, passo a resumir alguns fatos que influenciaram minha caminhada e me fizeram chegar as respostas atuais.

Na infância e adolescência:
Não projetei o que iria acontecer no futuro. Foi a observação dos comportamentos reativos violentos que prenderam minha atenção.

Na universidade e no hospital psiquiátrico:


Na convívio com grupos indigenas:


Na convívio com menores infratores:

Na convívio com pacientes em consultório:

  O processo civilizatório e o inicio da dependência individal organizada



Idéias para:

TV Senado:
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Prezado (a) senador (a)

Acompanho a vida política no Brasil desde 1963. Há três anos sou assíduo observador da TV Senado, TV Câmara e TVs educativas.
No seu ultimo pronunciamento sobre a saída do Zé Dirceu da casa civil, concordo plenamente com a sua conclusão objetiva e inteligente de que o truque usado pelo governo, tentando desviar o foco da crise para longe da pessoa do presidente, é clara e perceptível para muitos cidadãos. Não é necessário ser um parlamentar experiente para perceber certas estratégias políticas usadas por muitos representantes dos três poderes da República.
No caso do PT fica visível a postura fundamentalista dos seus principais lideres, tanto no parlamento como no executivo. Pergunto: a prioridade é a expansão sem limites do PT ou a solução dos problemas brasileiros?
Não considero o presidente Lula um brasileiro melhor do que todos nós; não votei nele porque percebi que suas promessas estavam além das possibilidades de um mortal, quero dizer, que eram compatíveis com o padrão delirante de certos políticos nas épocas pré-eleitorais; não votei nele também porque percebi que o partido que liderava não era (como ainda não é) um partido político. Considero o PT um amontoado de pessoas ávidas pelo poder e pelas oportunidades que o poder propicia a brasileiros-parasitas. O fanatismo e a dissimulação não constroem um País.
É meu direito considerar que os chavões ideológicos de “esquerda” e “direita”, ainda utilizados e acreditados por muitos, já estão devidamente sepultado pela historia desde que a ex-união soviética desmoronou e o “capitalismo” continua desmoralizado pelos fatos que gera. Parece, porém, que métodos ultrapassados continuam movendo o comportamento da maioria dos lideres no “mundo civilizado”.

Gostaria de saudá-la, muito mais pelo conteúdo ético e generoso das suas ações, do que pela combatividade já conhecida e certamente determinada pela sua consciência.

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