domingo, 9 de setembro de 2007

LÓGICA E COMPORTAMENTO – uma entrevista com o Dr. x




Apresentadora: Temos hoje como convidado o Dr. x que nos falará sobre o tema Lógica e Comportamento. Todos os presentes estão convidados a participar do debate. E-mails podem ser enviados para a produção do programa. Vamos iniciar com um e-mail da Dra. Ana Maria Martins, psicóloga.
E-mail da Dra. Ana Maria Martins, psicóloga: Como o Sr. vê as relações humanas no mundo atual e qual a lógica que permeia essas relações?
1) Dr. x: Quando usamos a expressão “no mundo atual”, sem querer, estamos homogeneizando todos os comportamentos das pessoas nas diferentes culturas. Entendo que a pergunta esteja voltada para as pessoas do mundo dito “civilizado”. É preciso dizer que o conceito de “mundo” varia conforme o indivíduo e a cultura na qual se insere. Nem todos vêem o mundo da mesma forma. No mundo dito “civilizado” as relações humanas vem sofrendo, durante séculos, distorções tão acentuadas que não caberia aqui o uso da palavra “lógica”. Talvez fosse melhor dizer que há carência de lógica, ou seja, parece haver uma grande confusão de conceitos e de interesses que impedem uma relação humana mais coerente e consistente. Isso não só desorganiza e dificulta as relações mas pode atuar como fator patogênico, acumulando tensões emocionais, produzindo neuroses, psicoses, desvios de caráter e outras alterações do comportamento, que eu chamo de comportamentos reativos.
Mariângela Camargo, jornalista: Por que o sr. usa o termo “civilizado” de forma irônica e afirma que a lógica civilizada pode atuar como fator patogênico?
2) Dr. x: Porque o termo “civilizado” não tem sentido para mim. Civilizado vem de civil ou de “Civita” (cidade)? O que é um cidadão civil, é um não militar? É o homem da cidade? Ou é um cidadão que sofreu efeitos do processo de civilização? Se você procurar nos dicionários o significado dessa palavra provavelmente ficará em dúvida. A conotação mais usada para o termo vem da expressão “vamos nos comportar como seres civilizados”. Essa conotação para mim soa como falsa pois os “seres civilizados”, na maioria das vezes, se comportam como seres antiéticos, belicosos e irracionais. Para mim “civilizado” significa domesticado; aquele que se comporta em bloco, que não sabe mais usar sua liberdade individual, que perdeu seu eixo cultural. A segunda parte da pergunta decorre do fato de convivermos numa sociedade violenta e individualista onde os laços de solidariedade já não atuam como fator de coesão social. E o psiquismo individual, sem dúvida, necessita desses laços para manter seu equilíbrio. Chamo de comportamentos reativos o resultado dos sintomas e condutas individuais nesse caos social.
Mariângela Camargo, jornalista: Você é uma pessoa pessimista?
3) Dr. x: Não, me considero um realista. Só não sou prepotente o suficiente para tentar mudar as leis da natureza, que levaram milhões de anos para se organizarem. Não posso mudar o mundo só por desejar que ele seja diferente; nem a cabeça das pessoas por não concordar, em certas coisas, com elas. Penso que os sentimentos, princípios e valores dessa sociedade civilizada, terão que modificar-se com o tempo. Só não podemos insistir nos mesmos erros que temos cometido. Admiro e aprovo o desenvolvimento tecnológico e científico, mas precisamos avançar muito no campo das relações humanas. Naquilo que é essencial para a convivência - as normas éticas - e que são as verdadeiras bases para a justiça e a paz.

Pedro Correia, sociólogo: Qual a relação íntima entre “comportamento” e “lógica”.
4) Dr. x: Para compreendermos essa relação se faz necessário definir com clareza os conceitos de: cérebro, mente, modelo cultural, comportamento e lógica. Primeiro precisamos admitir que o cérebro é um computador biológico e que a mente ou psiquismo é um programa que “roda” nele, que o faz funcionar. Podemos admitir comportamento como o resultado final de solicitações internas e externas a que estamos submetidos a todo momento. Não podemos esquecer da parte inconsciente que influencia fortemente o comportamento.
Apresentadora: E onde entram o modelo cultural e a lógica?
5) Dr. x: Temos de admitir que vivemos num mundo de códigos e convenções. Que objeto é este que está em cima do bloco de papeis na sua mesa?
Apresentadora: É uma caneta!
No ambiente: (Sorrisos...)
6) Dr. x: Agora começamos a perceber que é preciso usar as convenções (nomes) para podermos identificar objetos, pessoas e tudo o mais. Grafia e fonética podem variar conforme o idioma, mas o objeto é o mesmo. Ao olharmos para a caneta simultaneamente já sabemos qual sua função. A mente trabalha com “pacotes de informação”. Talvez, para ganhar tempo e espaço, ela associe num bloco só, várias características daquilo que se está vendo: o nome, sua função, cor, forma, dimensão, etc. Quando não conhecemos o objeto utilizamos nossos sensores (tato, olfato, gustação, visão, audição) a fim de obter e “gravar” informações sobre ele. Da mesma forma, normas ético-morais precisam ser aprendidas e praticadas pois são indispensáveis para organizar a convivência.
Apresentadora: Pode falar mais sobre modelo cultural e lógica?
7) Dr. x: Cada modelo cultural tem sua própria lógica. Por exemplo, uma cédula de cem reais pode ser vista pelo civilizado e pelo índio ianomâmi de maneiras bem distintas. Os modelos culturais que influenciaram seus sentimentos, princípios e valores geram estímulos correspondentes às aprendizagens que circulam em cada modelo social. Podemos comparar a lógica que existe num microcomputador com a lógica usada pela mente. No computador, as linguagens usadas pelo programadores são decodificadas e compreendidas pela máquina. Isso origina os comandos que ela executa. Digamos que a máquina “compreende” esses comandos e se “comporta” seguindo a programação projetada. A mente, mais avançada, compreende e executa tarefas muito mais complexas.
Rubens Meira, psicanalista: Quais são essas tarefas muito complexas?
8) Dr. x: São várias. Cada grupo de tarefas pode estar voltado para necessidades da vida de relação ou da vida vegetativa. O curioso é que as duas atuam interligadas e operam simultaneamente. Por exemplo, se cheirarmos determinada comida, teremos informações se ela está deteriorada, se satisfaz nosso paladar, se a reconhecemos. Estamos consultando arquivos em nosso banco de dados mental sobre experiências já gravadas na área da alimentação. Provando, saberemos se está salgada ou insossa. Vendo-a teremos informações sobre seu aspecto. Enfim, tudo é feito em curto tempo e influenciará nossa decisão de comê-la ou não. Isso sem falar em funções mais nobres como pensar e criar novas receitas.
Paulo Steinberg, jornalista: Como estaria funcionando a lógica nesse exemplo da alimentação?
9) Dr. x: Através de consulta aos arquivos preexistentes. As informações obtidas pelos sensores humanos, no exemplo da alimentação, são avaliadas e interpretadas com base na preferência individual. Enquanto o computador utiliza uma linguagem binária simples como lógica de interpretação de comandos, a mente certamente usa recursos mais complexos. A preferência individual resulta de experiências consolidadas no decurso da vida, através de uma intrincada rede de engramas, onde o inconsciente desempenha um papel relevante. É comum surgir na clínica diária casos em que a pessoa apresenta alta seletividade para alimentos. Em certos casos isso decorre de experiências desagradáveis, relacionadas a certos alimentos, ocorridas no ambiente familiar ou fora dele. Alguém pode ter obrigado essa pessoa a comer coisas que ela não havia decidido por desejo próprio.
Apresentadora: O sr. falou a palavra engrama. O que vem a ser isso?
10) Dr. x: A mente é capaz de guardar registros cerebrais complexos (engramas) de experiências agradáveis ou desagradáveis, carregadas de energia (emoção). Engrama é arquivo multimídia complexo composto de informações de várias naturezas (imagem, som, sabor, odor, textura, etc.) captados pelos órgãos dos sentidos ou imaginados pela criatividade e armazenados na memória. Após serem processados por centros superiores, esses blocos de informações, relacionados entre si, servem como suporte para novas experiências. Esta capacidade possibilita o armazenamento dessas informações no cérebro como se ele funcionasse como um banco de dados relacional avançado, permitindo usos variados e estratégicos dessas aprendizagens através de mecanismos de busca (memória) ou dedutivo-associativos (raciocínio, inteligência). Essas experiências geralmente estão impregnadas de cargas diferentes de energia especial (emoções) que lhe conferem qualidade e força.
Gustavo Zimmerman, biólogo: Sendo o cérebro constituído de matéria viva, tendo como unidade as células, como explicar seu funcionamento? Em outras palavras, como funciona a mente?
11) Dr. x: Sabemos muito pouco sobre isso. Essa questão ainda é objeto de pesquisas em vários centros no mundo. Existem muitas hipóteses e poucas certezas. Mas podemos conjecturar. Se admitirmos que a célula é a unidade da vida e que cada tecido cumpre uma função no corpo podemos concluir que o tecido nervoso, que atua no cérebro, possui uma função especializada. O neurônio, por exemplo, apresenta estruturas adaptadas para receber e transmitir informações. Um componente da célula, chamado axônio, se reúne para formar longos fios chamados de feixes nervosos. Esses feixes conduzem informações para diferentes direções. Esse complexo “hardware” cerebral tem sido imitado pela indústria da informática e há estudos sobre as chamadas “redes neurais”, utilizadas para o que chamam de inteligência artificial. O que mais surpreende não é o “hardware”, mas o sistema operacional que o administra - a mente ou psiquismo. Podemos admitir o psiquismo como função do cérebro, atuando como um possante sistema operacional que abriga um conjunto de programas inteligentes (afetividade, sexualidade, sociabilidade, habilidades, etc.) interligados por um circuito neuronal integrado, com possibilidade de desenvolver-se e de alternar e alterar essas ligações. Com uma configuração administrada pelas aprendizagens pessoais, familiares e culturais. Possui uma notável capacidade para moldar essas configurações de acordo com situações novas (adaptação), operando numa velocidade incrivelmente fantástica (pensamento, reflexos).

Paulo Steinberg, jornalista: Você falou em “funções cerebrais”, como atuam essas funções?

As funções cerebrais estão dirigidas para duas direções fundamentais: uma interna e outra externa. A interna está orientada para duas outras, uma que cuida da integração do corpo (vida vegetativa) e uma autoreguladora do próprio cérebro (autoregulação psíquica) que funciona como “controle e manutenção” do equilíbrio mental. A externa está dedicada às situações que acontecem no meio ambiente (vida de relação). Essas funções se refletem mutuamente, permitindo a comunicação interfaces e proporcionando uma sensação global (estado consciente). O cérebro parece possuir um mecanismo de defesa semelhante ao do corpo (sistema imunológico). Ele seria o responsável em manter, mesmo em estados graves, um registro de segurança (“backup”) da configuração mental sadia. Uma espécie de arquivo anterior ao processo de instabilidade mental, que o faz reconhecer de novo a condição de equilíbrio antes existente. Como nos “softwares”, onde é possível recuperar arquivos após uma instabilidade no sistema, a mente também se reabilita de situações traumáticas. Mas, sobre ela, o que compreendemos ainda se mostra insuficiente.

E-mail de José Góes Martins, educador: No e-mail da psicóloga Ana Maria Martins ela pergunta: Como o Sr. vê as relações humanas no mundo atual e qual a lógica que permeia essas relações? Eu não consigo compreender, diante da complexidade do mundo mental e da lógica sensata, por que a violência atualmente se apresenta de forma tão intensa. O sr. poderia falar sobre isso?

12) Dr. x: A violência é um conceito e uma prática humana antiga e variável. Antiga porque está presa ao instinto de sobrevivência e variável porque está subordinada ao tempo, à cultura e à interpretação individual. Não que o instinto de sobrevivência tenha de ser obrigatoriamente conduzido pela violência, mas pode tornar-se se houver alterações no ambiente, na mente ou no modelo cultural. No método que uso na clínica, utilizo dois conceitos que orientam o raciocínio: a um eu chamo de Comportamento Ativo e ao outro de Comportamento Reativo. O Comportamento Ativo atua se as experiências são agradáveis, e se associam a emoções de alta qualidade, como solidariedade e altruísmo, provocando o surgimento de “impulsos ativos” (sinais ativos) que se acumulam no plano inconsciente do psiquismo determinando um caráter construtivo do comportamento individual. O Comportamento Reativo atua quando as experiências são desagradáveis, e se associam a emoções com baixa qualidade, como ressentimento e vingança, provocando o surgimento de “impulsos reativos” (sinais reativos). Os impulsos reativos são impulsos represados que se acumulam no plano inconsciente do psiquismo determinando um caráter destrutivo do comportamento individual, que determina uma agressividade facilmente aflorável, e que conhecemos como: “nervosismo”, temperamento agressivo, neurastenia ou recalque. O represamento ocorre porque um “grupo de informações especiais” (bom senso) indica que a liberação desses impulsos pode causar instabilidade no sistema (psiquismo - culpa) e na rede (família, cultura - conflito).

Apresentadora: O que poderia estar originando esses Comportamentos Reativos em nossa sociedade?
13) Dr. x: A origem dos comportamentos reativos se iniciou quando surgiram as primeiras desigualdades sociais no início do processo de civilização e quando o homem percebeu que deve abrir mão de certos impulsos instintivos em favor da vida grupal. As insatisfações represadas e acumuladas determinaram um caráter destrutivo no comportamento individual, que foi transformando agressividade normal em potencial destrutivo. Podemos imaginar que a liberação brusca (explosão) desse acúmulo sairia em forma de violência; uma liberação lenta (elaboração, diálogo, negociação) sairia sob forma de agressividade normal. Exemplo disso está nos conflitos armados entre grupos radicais israelenses e palestinos, católicos e protestantes na Irlanda, indianos e paquistaneses, fora os que ocorreram entre outros povos no passado.

Paulo Steinberg, jornalista: Como se explica que uma sociedade como a nossa, após tantos séculos de tentativas, ainda não conseguiu equacionar a questão da convivência?
14) Dr. x: Penso que todo homem é prisioneiro de suas idéias e experiências, logo, seu campo de observação e sua interpretação estão sempre limitados por elas. Numa entrevista concedida por Jacques Barzun, emérito historiador americano, de origem francesa, ele comenta: “...(no Ocidente) as confissões de mal-estar são contínuas, o repúdio e a deturpação das instituições são uma constante. Tomemos o Estado-Nação como exemplo...”. Percebo que Barzun limitou suas sábias observações ao mundo civilizado, que não tenha tido oportunidade de compreender como funcionam as sociedades naturais, as suas estruturas político-sociais, econômicas e religiosas e, muito menos, a ideologia que perpassa sua totalidade dinâmica. Há entre nós um costume etnocêntrico: tomamos sempre a civilização ocidental como parâmetro central para todas as nossas análises e reflexões. Ainda não conseguimos equacionar a questão da convivência porque somos imaturos. Não conseguimos até hoje nos libertar do materialismo e do individualismo que as regras de uma sociedade excessivamente produtiva nos impõe. Somos consumistas onipotentes e infantis. As mudanças poderão surgir quando - a exemplo das sociedades naturais – redescobrirmos um padrão coletivo de convívio.
Rubens Meira, psicanalista: Você poderia sintetizar o que origina o comportamento violento?
15) Dr. x: Essa é uma tarefa muito difícil para o tempo da televisão. Vou tentar. Poderíamos pensar que duas coisas são fundamentais: a destrutividade humana mal resolvida e a perda do eixo cultural. Juntando as duas coisas teremos como resultado a violência. Destrutividade é condição individual e inata. Ela precisa ser lapidada nos primeiros anos de vida para se transformar em agressividade normal, que patrocina a socialização, a convivência normal. Perda do eixo cultural é o estilhaçamento das regras de convivência, a dissociação dos sentimentos, princípios e valores numa sociedade que já não mais reconhece ou usa suas funções coletivas. Quando Pelé disse que o povo não sabe votar, foi muito pressionado por se tratar de uma época de ditadura militar. Foi obrigado a justificar suas palavras. A sociedade civilizada é hipócrita. O povo, além de não saber votar, é o setor mais violento e corrupto da sociedade. De onde vêm os representantes das instituições do Estado? E a violência na família, não poderia ser o embrião da violência social? Quando obtivermos dados estatísticos confiáveis sobre a violência familiar, poderemos tirar as seguintes conclusões: Primeira, o meio familiar poderá ser visto como foco inicial das primeiras aprendizagens destrutivas. Segunda, poderá ser compreendida como formadora e perpetuadora desta situação. A família, se não estou enganado, compõe a massa crítica social. Aquela que influencia o comportamento dos futuros adultos.
Paulo Steinberg, jornalista: Você me faz pensar que a sociedade civilizada tende a se autodestruir e que não há alternativas para melhorar a convivência. É a favor dessa hipótese?
16) Dr. x: Não. Acredito na capacidade humana de mudar, para melhorar a convivência. Porém, as formas de organização social que foram experimentadas com o decorrer da historia humana detonaram o que eu chamo de “modelo cultural estável”. Os comportamentos reativos são, em boa parte, resultantes das desigualdades sociais que decorrem dos modelos de organização social existentes nos paises civilizados. Imaginar que aquilo que denominamos de “Estado Nacional” é resultado de outras formas de organização social anteriores, que foram se modificando com o tempo, pode nos fazer concluir que ainda não encontramos um modelo social satisfatório. Isso faz lembrar o que disse o líder indígena Marcos Terena: “a civilização de vocês é o exemplo de uma cultura que não deu certo!”.
Paulo Steinberg, jornalista: Quais os erros que você aponta na sociedade civilizada atual?
17) Dr. x: São tantos... Vou citar apenas um que tem se perpetuado em quase todos os modelos que existem hoje em dia. Quando uma sociedade se estratifica e se divide em classes sociais, privilegiando algumas delas em detrimento da maioria dos indivíduos, terá semeado certamente as condições favoráveis para a prática da violência. Não é difícil entender que o homem primitivo sobrevivesse da busca de alimentos que encontrava no meio ambiente. Seu grupo, como possuía normas coletivas de convívio, costumava repartir o produto dessa busca, pois os fundamentos da cultura preservava sentimentos de solidariedade. A sociedade civilizada não é uma cultura ou modelo cultural. Nessa sociedade a sobrevivência depende essencialmente em se ter emprego ou dinheiro para mantê-la. Para mim é um agrupamento de indivíduos que competem ferozmente pelo poder, pelo dinheiro e pela fama. Por incrível que pareça, esses conflitos geram lucros para algumas instituições e empresas e, algumas vezes, são forjados pelos governos e por alguns grupos empresariais com essa finalidade. Vivemos um clima de voracidade e competição.
Pedro Correia, sociólogo: Quais as sociedades não estratificadas que conhece?
18) Dr. x: Os índios não aculturados. Eles foram chamados pelo etnólogo Pierre Clastres de “Sociedades sem Estado”. Entre eles não percebi a existência de comportamentos reativos e, portanto, de violência. Entre eles pude constatar a existência do que chamo de “modelo cultural estável”. Estão satisfeitos com a vida que levam pela inexistência de privilégios individuais. Suas insatisfações se restringem a algumas arengas individuais e, sobretudo, ao contato com o civilizado, que invade suas terras, transmite doenças e os explora. Entre eles é possível buscar sabedorias que podem influenciar na construção de uma nova forma de organização social.
Apresentadora: O que poderia nos falar sobre sua formação profissional?
19) Dr. x: Sou um cidadão que gosta de aprender em diferentes áreas como: medicina, sociologia, saúde pública, psicossomática, informática, psicanálise, antropologia, etc. Gosto de ler sobre comportamento animal e humano e sobre assuntos ligados a política, economia e meio ambiente.
Rubens Meira, psicanalista: Quanto tempo ficou entre os indios?
20) Dr. x: Lamento que o meu convívio entre eles não tenha sido tão longo como eu desejaria que fosse. Presto muita atenção às reportagens e livros de antropólogos e etnólogos, às experiências dos irmãos Villas Boas e outras pessoas que conviveram longo tempo em aldeias. Li alguns livros sobre o assunto. Confesso que hoje não consigo separar entre o que observei pessoalmente do que ouvi e li sobre seus hábitos e costumes. Algumas sabedorias, aprendidas com eles, que incorporei à minha vida, continuam sendo de grande valor prático e devem estar automatizadas, isto é, incorporadas ao meu comportamento.
E-mail de Maria Paula Sanches, professora: Visitei quatro paginas suas na Internet e li alguns trabalhos onde você fala de seus contatos em aldeias indígenas na Amazônia. Quais as sabedorias que você aprendeu no convívio com eles?
21) Dr.x: Vamos ver..eu lembro do caso da mulher do índio. Vou relatar o caso primeiro, depois comentamos. “Um guerreiro saiu de sua casa e atravessou o terreno central da aldeia. Bem no meio do caminho abaixou-se, deixou seu arco e flechas no chão e se embrenhou na mata. Poucos minutos depois sua mulher fez o mesmo percurso e notou no chão o arco e flechas do marido. Identificou e seguiu, sem parar, para o seu destino. Mais alguns minutos e o guerreiro voltou, retomou suas armas do chão e penetrou na floresta”. A maioria das pessoas não notaria qualquer importância nisso que acabamos de narrar. Mas perguntamos: o que é que a maioria das mulheres brancas faz quando encontra um objeto do marido no chão?
No Ambiente: Risos, gargalhadas e comentários entre os presentes...
Apresentadora: Eu levaria as flechas pra casa e ainda passaria um sabão nele...risos. Continue Dr....!
22) Dr.x: Para certos grupos indígenas os objetos pessoais são de propriedade de uma pessoa apenas. Só deixam de ser quando é autorizado, pelo proprietário, outro tipo de uso. Nenhuma outra pessoa deve exercer qualquer tipo de poder sobre ele sem autorização, como por exemplo: trocá-lo de lugar, pegar sem pedir, etc. Cada pessoa é o único detentor do poder sobre seu objeto pessoal e quando essa pessoa morre, seus objetos são enterrados com o corpo, pois nenhum objeto pode sobreviver ao seu dono. Os objetos usados em cerimoniais sagrados só podem ser tocados por certas pessoas do grupo durante os rituais; encerrada a cerimônia ele passa a ser um objeto qualquer que pode ser usado livremente e até servir de brinquedo para as crianças. Em vários grupos o objeto é visto pelo seu valor utilitário (função) e não possui valor comercial. O que uma pessoa faz ou deixa de fazer com seus objetos é de sua inteira responsabilidade, e ninguém se sente com direito de emitir qualquer tipo de comentário. Comentar seria invadir a privacidade e se intrometer na individualidade do proprietário, coisa ridícula para eles.
Pedro Correia, sociólogo: Você parece nutrir uma grande admiração pelas sociedades indígenas. O que mais chama sua atenção nessas sociedades?
23) Dr.x: Costumo dizer que enquanto nós elegemos o plano material, eles elegem o espiritual e o coletivo para conduzir suas vidas. Li recentemente numa revista de grande circulação nacional que os 10% mais ricos da população no Brasil detém metade da renda nacional. A outra metade é disputada ferozmente pelos restantes 90%. Os miseráveis permanecem imóveis e assistindo tudo por estarem excluídos do mercado. Nenhum modelo econômico conseguirá mudar esse quadro desumano. Porque as “sociedades civilizadas” são movidas pela lógica do individualismo e da ganância. Isso eu não vi nas aldeias indígenas.
Apresentadora: E do ponto de vista social e político, o que mais chamou sua atenção?
24) Dr.x: A falta de autoridade. Numa “sociedade sem Estado” não há autoridades e ninguém dá ordens. A organização política nas comunidades naturais, e, especialmente, o tipo de governo existente é muito diversificado, mas como padrão, nunca está sujeito a instituições e nem a formas centralizadas de poder. É provável que a representação da liderança natural seja o resultado das normas estabelecidas pelo bom senso do grupo sem pressões coercitivas institucionais ou pelo líder. O líder não dá ordens. A lei pode existir sem governo na forma de acordo consensual. Muitas atividades (da representação das lideranças) não se expressam como lei. Entretanto, a própria existência da Lei-Tradição é em si mesma uma expressão de organização política, porque a legitimidade dos atos de um líder é uma expressão de interesse grupal e de consenso grupal. A organização política é mais do que governo, e não é sinônimo de Estado porque o Estado é um fenômeno social especializado, enquanto que a organização política é generalizada e pode ser representada por pessoas, mas pode não ser governada por elas.
José Maria Calmon, físico: Então de onde se origina o poder ou motivação que move uma sociedade dessas?
25) Dr.x: Nas comunidades naturais o poder emana da Lei-Tradição (ancestralidade, mitologia), que funciona como uma Constituição, de natureza sagrada e é evocada pelo líder, com freqüência, para ser aprendida pelo grupo, tornando-se consensual. Se o líder não possui poder de mando é porque a comunidade não cria instituições que lhe outorguem essa função de poder. O grupo concede ao líder (chefe) o “prestígio de representação” e lhe nega a “função de poder” para evitar o “abuso de poder” e o aparecimento da violência. Esse é o princípio da liberdade comunitária: tornar o poder impessoal (tradição) para não lidar com a vontade pessoal (coerção). Uma regra social que se organiza sem o Estado.
Pedro Correia, sociólogo: Então você estabelece um nexo entre o “abuso de poder” e o aparecimento da violência. Isso quer dizer que um tipo de organização social pode ou não servir de terreno fértil para o surgimento da violência, está certo? Como explica esse processo atuando na lógica do comportamento individual?
26) Dr.x: Sem dúvida, o abuso de poder gera a violência. Supondo que o acúmulo de insatisfações individuais gere comportamento reativo do tipo destrutivo, poderíamos concluir que os conteúdos psíquicos dos indivíduos numa sociedade injusta e violenta sejam fortemente reativas, ou seja, providas de tensões excessivamente acumuladas, que se refletiriam nas relações interpessoais, certo? Em sociedades mais justas as insatisfações individuais se resolveriam por consenso - não por leis - e seriam aceitas e elaboradas sem violência, projetando-se também nas relações interpessoais. Ora, todos sabem que as leis nas sociedades civilizadas são instrumentos das elites e dos poderosos. De de forma inversa, somos levados a admitir que os conteúdos psíquicos dos indivíduos dentro das sociedades naturais sejam fracamente reativos, isto é, desprovidas de tensões excessivamente acumuladas, propiciando a expressão de comportamentos ativos (construtivos). A utilização habitual de sentimentos, princípios e valores de caráter comum (solidariedade, generosidade, ética grupal), poderia explicar o conteúdo construtivo da conduta e da personalidade dos indivíduos nessas comunidades. Isso diminuiria muito a freqüência dos conflitos. Os povos das sociedades naturais devem ter “descoberto” ou intuído que “todo indivíduo é frágil e o grupo é forte”. Que não é dado ao ser humano o privilégio de conduzir o destino do conjunto social. Nos seus inconscientes deve estar inscrita a seguinte sabedoria: “O homem nunca estará preparado e seguro para lidar com grandes doses de poder sobre os demais”. Podem ter engendrado o poder tradicional para organizar a vida social e delegaram, aos membros mais confiáveis, apenas “o prestígio de representação”. Esse “prestígio” pode se esgotar e o lider ser deposto e esquecido se, ele próprio, se afastar dos preceitos tradicionais. Voltará a ser um cidadão comum e perderá a admiração de todos. Pior punição não pode existir para quem ama o poder.
Rubens Meira, psicanalista: Estaríamos, então, diante de uma questão fundamental: qual o grau de importância da qualidade da organização sociocultural na determinação da origem dos comportamentos reativos (neuroses, psicoses, violências e desvios de comportamento)? Outro modo de formular a mesma pergunta: as violências, as alterações psíquicas, os desajustes intrafamiliares e os conflitos sociais podem ser combatidos eficazmente através de remédios, de melhorias nos sistemas de saúde, através de novas leis ou pelas atuais e futuras descobertas científicas, sem mudanças dos princípios vigentes nas sociedades civilizadas?
27) Dr.x: Não acredito em soluções paleativas voltadas só para os sintomas. A grande questão é a qualidade da convivência. O melhor modelo social é aquele que exclui privilégios e distribui equitativamente o resultado do progresso; o que usa o cimento da solidariedade para manter a coesão entre indivíduos. Outros acréscimos serão meros acessórios. Todo e qualquer avanço na sociedade humana deve ser autorizado pelo grupo e compartilhado entre seus membros, sem exceções. Estratificação permite privilégios e distribui desigualmente o poder.
Mariângela Camargo, jornalista: O que mais contribuiu na formação dos seus conceitos. Você poderia fazer um breve histórico dos fatos que mais se destacaram, influenciando o seu trabalho?
28) Dr.x: O que mais contribuiu na formação dos meus conceitos, usando ordem cronológica, foram quatro experiências: Primeiro, experiências da infância e adolescência onde, em tempo de férias, ficava em contato com a natureza. Segundo, experiências na universidade cujo destaque foi um período de residência de três anos num hospital psiquiátrico público, onde aprendi como não ajudar, e como ajudar, pessoas portadoras de desvios do comportamento. Terceiro, experiências profissionais de saúde pública no Amazonas, Roraima e Pará, onde o mais importante foram as visitas a algumas aldeias indígenas que me despertaram o interesse pela etnologia. Por último trabalhei em Minas Gerais, numa escola de menores infratores e no consultório particular, no qual tive oportunidade de organizar o método que uso.
Rubens Meira, psicanalista: Quanto tempo você levou para organizar o método que usa no consultório?
29) Dr.x: Mais de trinta anos, já que estamos em 2004. Em 1972 já pensava em buscar uma forma eficiente de lidar com as alterações do comportamento. Posso dizer que as idéias começaram a se organizar a partir dessa época. A minha experiência inicial de saúde pública me ajudou a pensar de forma aberta, coletiva. Entre 1973 e 1976 coordenei um grupo de trabalho planejando um programa de saúde do então Território Federal de Roraima. Aprendi muito com a assessoria na região, dada pela Oficina Panamericana de Saúde, órgão da OMS. Nessa época fiz um curso de administração em saúde pública que me ajudou, de forma significativa, na organização do trabalho, a partir de 1977, numa comunidade de infratores em Sete Lagoas/MG. Foi nessa comunidade de infratores, através do treinamento de equipe interdisciplinar, onde foi utilizado pela primeira vez o conceito de comportamento reativo, naquela época chamado de “conduta reativa”. Uma experiência que durou nove anos. Em 1979 já atendia em consultório onde usava esses conceitos na prática clínica. Só em 1993 o método foi escrito e continua sendo atualizado a cada ano. Inovações foram incluídas, como, por exemplo, a criação de Grupos de Apoio Familiar, treinamento dado a família, onde seus membros treinam para se tornarem terapeutas auxiliares, evitando conceitos distorcidos aprendidos com seus pais. Reter conhecimentos, sobretudo na área da saúde mental, é um erro grosseiro.
Consuelo Benatti, estilista: Qual a lógica do comportamento machista?
1) Dr.x: Num texto, em forma de dialógo, intitulado “Machismo e feminismo” abordo o tema a partir da visão de que não existem seres humanos completos, acabados. Existem metades imcompletas que precisam conviver em mútuo acordo para gerar outros seres inacabados e, com isso, executarem a estratégia natural da reprodução da espécie. Vejo machismo e feminismo como distorções do pensamento civilizado que elege a competição entre os sexos como mecanismo de compensação das inseguranças pessoais. É uma lógica ridícula, presente nas sociedades sem eixo cultural. Isso não existe nas sociedades naturais. O texto citado encontra-se disponível no endereço: http://orbita.starmedia.com/~freitas_filho/gratuitos.htm
Consuelo Benatti, estilista: O que me diz da emancipação feminina?
30) Dr.x: Não levo a sério emancipação feminina ou masculina. Seres imcompletos só se emancipam quando constituem um grupo familiar, instituição natural que não pode ser inventada. Maternidade e paternidade são instintos tão fortes que já vem embutidos no pacote genético. São complementares aos instintos de reprodução e sobrevivência. Porisso muitas mulheres desejam ter filhos mesmo fora do casamento. Os homens se sentem solitários quando vivem sozinhos.
E-mail de Júlio Tavares, estudante: Por que crianças, jovens, adultos e velhos pensam e se comportam de formas diferentes? Qual a lógica desses comportamentos?
31) Dr.x: Dissemos antes que a preferência individual resulta de experiências consolidadas no decurso da vida, através de intrincada rede de engramas, onde o mundo inconsciente tem papel relevante. Também dissemos que o armazenamento das informações no cérebro funciona como se ele fosse um banco de dados relacional avançado, permitindo a utilização variada e estratégica das informações por mecanismos de busca (memória) ou dedutivo-associativos (raciocínio, inteligência). Imaginemos que uma criança só possui um nível de experiências. Ela não pode relacionar esse nível com outros porque só possui esse. Os jovens já possuem dois níveis, o da infância e o seu próprio, portanto já há referencial comparativo possível. Ora, adultos e velhos possuem maior volume de engramas (experiências), e isso lhes permite uma comparabilidade mais acentuada. De maneira geral quem possui mais aprendizagens armazenadas costuma se comportar segundo uma síntese dessas experiências. Um fato interessante é que os arquivos (engramas) gravados em cada nível de experiências, guarda as características do tempo em que foram criados. É porisso que chamamos os velhos de saudosistas. Porque seus engramas foram gravados com os significados da época em que foram criados e, nessa época, os costumes e valores eram diferentes. Essa é uma forma breve que nos permite compreender que a maturidade é um processo progressivo e vinculado às faixas etárias.
José Maria Calmon, físico: Você disse que as experiências humanas estão geralmente impregnadas de cargas diferentes de energia especial (emoções) que lhe conferem qualidade e força. Como chegou a essa conclusão?
32) Dr. x: É do conhecimento geral que fenômenos mentais são de natureza virtual. Na maioria das vezes não podem ser abordados com auxilio das ciências exatas. As conclusões, nesse caso, são resultado de modelos teóricos que, partindo de hipóteses, precisam ser testados exaustivamente na prática até que possam mostrar padrão razoavelmente uniforme de respostas. Razoavelmente uniforme porque a configuração mental varia segundo diferentes fatores, de indivíduo para indivíduo. Considero que cada um de nós entende a língua portuguesa, porém, possuímos uma linguagem personalizada. Quero dizer que cada pessoa deve possuir um código próprio que pode variar na forma de interpretar ou de se emocionar com certas experiências. Sabemos também que o cérebro possui um ritmo elétrico em escala de microvoltagem e nanovoltagem. A transmissão de dados na mente tem sido pesquisada atualmente e admite-se que todo sistema que produz trabalho é movido por energia e converte energia; o cérebro é mobilizado por energia e, após processá-la, induz a trabalho físico e energético (programas). Sabemos que energia e massa (matéria) são passíveis de conversão recíproca sob certas condições. Portanto o cérebro pode gerar energia (a partir da matéria) sob forma de descargas (pulsos eletroquímicos), correspondentes às necessidades do trabalho e de suas características (função). Esse trabalho tanto pode expressar-se de uma forma real (coordenação motora, locomoção) como pode assumir forma virtual abstrata (imaginação, pensamento lógico, fantasias, emoções). Todo modelo teórico é passível de correções e atualizações. Para utilizarmos esse modelo em cada pessoa é necessário adapta-lo às caracteristicas individuais.
José Maria Calmon, físico: Você quer dizer que emoção é energia?
33) Dr. x: Não posso afirmar isso. Considero que seria simples demais considerar que emoção é energia. Por enquanto só dá para especular pois, essa hipótese, creio que seja bem mais fácil de ser comprovada por outros métodos. Acredito que a emoção seja o resultado de um processo complexo de interpretações e elaborações, envolvendo múltiplos centros cerebrais. Sabemos que a imagem que surge num televisor a cores é composta de feixes de diferentes freqüências de onda que varrem a placa do cinescópio, impregnado de uma substância especial; a conversão desses feixes produz a imagem. No caso das emoções, é possível imaginar que essas energias, sob forma de descargas (pulsos eletroquímicos), corresponderiam a esses feixes, produzindo sensações com características diferentes segundo diversos comprimentos de onda, influenciando diversos centros. As emoções, além das sensações, induzem também a trabalho com características variadas. O trabalho correspondente pode ser motor (tremores), circulatório (palidez, rubor), cardíaco (taquicardia) e até mesmo ocasionar uma parada provisória da atividade mental (desmaios). Tudo que falei, embora com conteúdo aparentemente lógico, é especulação; ainda não há qualquer comprovação cientifica sobre o assunto.
Pedro Correia, sociólogo: Mudando de assunto. Qual a sua opinião sobre a fala do presidente FHC ao criticar o legislativo e o judiciário dizendo que os congressistas não se apressam em mudar o Código Penal que está obsoleto e os juizes, manipulados pelos advogados, soltam os bandidos, concedendo-lhes liminares de soltura.
34) Dr. x: Concordo com o presidente. Quando eu disse que o Estado Nacional é esquizofrênico, estava me referindo a coisas como essa. Os homens que representam as instituições não se entendem. Cada qual se acha dono da verdade e do poder que seus cargos facultam. A sociedade assiste passiva e indignada porque não possui poder para interferir. Ora, se todos sabem que o Código Penal está obsoleto por que segui-lo? Se os advogados sabem que seus clientes são bandidos por que não os convence a seguirem as leis, já que aprenderam a falar e defender com perícia seus argumentos? Se congressistas sabem que é urgente atualizar as leis por que não o fazem? Chego a seguinte conclusão: o indivíduo não é parte importante nas sociedades que se auto-intitulam de civilizadas e a palavra “democracia” - governo do povo, soberania popular, segundo os dicionários – é uma farsa, não possui propósito sério. Ou seguimos na lei da selva, onde hienas e abutres disputam ferozmente a carniça, ou construímos um novo modelo de organização política e social, onde todos possam contribuir e usufruir dos avanços. Quando, num sistema de governo, os representantes se embriagam com o poder e com a riqueza a convivência social se deteriora.
Pedro Correia, sociólogo: Qual seu comentário a respeito da Enron, a empresa americana que deu um golpe no mercado e escandalizou a todos com seus envolvimentos no governo Bush?
35) Dr. x: Concluo que hienas e abutres são iguais em todas as pradarias civilizadas.
No Ambiente: Gargalhada geral...
Apresentadora: Com essa defesa firme dos seus pontos de vista alguém já lhe considerou um lunático?
36) Dr. x: Sim. Mas eu prefiro ser um lunático com visão crítica coerente sobre a realidade na Terra, do que ser um terráqueo com convicções irredutíveis sobre a realidade na Lua. Não posso impedir que outras pessoas tenham seus próprios pontos de vista. Mas posso perder meu equilíbrio mental se vocês me pressionarem demais com suas perguntas.
No Ambiente: Riso geral...
Gustavo Zimmerman, biólogo: Qual a lógica que move um bandido a se tornar mais audacioso e certos políticos a perpetuarem a demagogia?
37) Dr. x: A mesma lógica das perguntas anteriores. Congresso, Justiça, Executivo, Imprensa, Igrejas e todas as outras instituições, numa sociedade, devem operar integradas para alcançarem os objetivos comuns da Nação. Se as pessoas que movem essas instituições não entendem que o povo é a Nação, e ficam disputando pelos interesses pessoais, sempre teremos bandidos mais audaciosos e políticos cada vez mais populistas. Os bandidos têm pontos em comum com autoridades, com políticos e com o próprio povo. Lutam por seus interesses, reproduzindo o jogo social de uma forma menos sutil, menos coletiva e mais agressiva. O Congresso faz de conta que trabalha, a Justiça faz de conta que julga, em cima de leis obsoletas, o Executivo tem recursos insuficientes para executar obras sociais, a Imprensa promove o exibicionismo dos bandidos e dos politicos, através de matérias espetaculares, faturando pontos no Ibope, as Igrejas se mantém, há séculos, prometendo uma felicidade eterna após a morte. Essa tem sido a lógica civilizada.
Apresentadora: Conhece algum país civilizado cuja organização social seja mais estável?
38) Dr. x: Ouço falar que certos paises escandinavos têm organização social mais justa. Seria recomendável ouvir seus habitantes antes de formar idéia final. Em grupos pequenos como quilombos e povoados distantes, embora em contato com costumes civilizados, é possível que pessoas consigam manter modelos sociais organizados por regras coletivas de consenso e vivam com qualidade de vida superior a que temos, no que se relaciona à qualidade de convivência. Podem não ter o conforto e esplendor das grandes cidades, mas devem se sentir melhor nas relações interpessoais. Considero como sociedades mais desenvolvidas da Terra - no plano das relações humanas - os grupos indígenas com nenhum ou com fraco contato com grupos humanos civilizados.
Consuelo Benatti, estilista: O que representa para você o Carnaval como fenômeno social?
39) Dr. x: Um período de desrepressão coletiva. Uma oportunidade única de poder transgredir coletivamente em várias áreas, com amplo consentimento oficial, realizando fantasias reprimidas. Lembrei agora de um psiquiatra inglês defensor da idéia de que as pessoas necessitam dessas descargas periodicamente para se livrarem dos excessos de tensões do dia-a-dia. Cair na gandaia, uma vez ou outra, deve fazer bem a saúde mental. Pode representar uma fuga provisória do trabalho estressante. Aliás outras manifestações festivas de caráter semelhante podem estar servindo como termômetro da excessiva carga de horas de trabalho, próprias das sociedades neuróticas.
Consuelo Benatti, estilista: Já desfilou em alguma escola de samba?
No Ambiente: Risos...
40) Dr. x: Não. Mas já tive vontade quando era mais jovem.
Apresentadora: Voltando a questão do poder, como você vê o povo numa sociedade como a nossa?
41) Dr. x: Comparo o povo com um sanduíche, onde uma insignificante porção de poder encontra-se espremida. Por cima, pelos bandidos do colarinho branco e por baixo pelos bandidos sem colarinho.
No Ambiente: Risos...
Consuelo Benatti, estilista: Qual a lógica do comportamento amoroso?
42) Dr. x: São múltiplas as formas de sentir e pensar o amor. Poeticamente poderia dizer que essa multiplicidade pode ser comparada a quantidade de corpos celestes que o universo possa comportar. Gosto de comparar o amor como um componente de um grande ardil engendrado pela Natureza para induzir os humanos a seguir suas leis. Penso que parte desse ardil foi ter feito duas metades com características inteligentemente diferenciadas e ter embutido em cada uma delas um componente de ilusão. Cada metade seria levada por uma obsessão de completude, isto é, de adicionar a si a outra metade para sentir-se uma unidade completa. A essa obsessão psicológica ela adicionou uma coisa chamada sexo, também diferenciada, anatomicamente encaixavel e que pudesse provocar intenso prazer, como uma droga que induz ao estado de alteração da consciência durante certo tempo. Por ultimo, e para completar a obra, criou os instintos construtivos de maternidade e paternidade para permitir que os seres provenientes dessa união também pudessem sobreviver para completar e reiniciar esse ciclo.
Pedro Correia, sociólogo: Voltando ao assunto inicial. O Sr. chamou de comportamentos reativos os comportamentos relacionados com a violência. Gostaria de saber como o Sr. elaborou este conceito e quais os fundamentos lógicos que o sustentam.
43) Dr. x: Desde os tempos de universidade eu nunca aceitei determinados conceitos, sobretudo os da Psiquiatria, que explicava certos comportamentos humanos como sendo doenças. Foi um grande êrro chamar as alterações de comportamento de “doenças mentais”. É compreensível que isso tenha acontecido, pois no século XVI, quando se iniciaram as tentativas de organizar o mundo científico - e particularmente o conhecimento médico - , os classificadores juntaram tudo. Achavam que as doenças físicas e as alterações mentais podiam ser compreendidas sob os mesmos parâmetros bioquímicos e físicos. Hoje sabemos que a mente é de natureza virtual. Sabemos que os fenômenos mentais são instâncias superiores que servem para organizar os indivíduos no seu mundo interno e na vida relacional, para dar sentido á vida em grupo. O mundo mental tem regras próprias e funciona de forma diferente. Sua unidade significativa não são apenas moléculas ou reações químicas, mas as informações que funcionam em altas velocidades através de neurotransmissores, os supostos intermediários entre as informações armazenadas – a aprendizagem - e a resposta individual, isto é, o comportamento. O mundo mental gerencia os conteúdos internos do mundo individual e externos, do mundo social, da cultura onde o indivíduo é gerado e na qual convive. É ele que percebe se o corpo está prestes a adoecer e se aprova ou desaprova as distorções existentes na vida em grupo. Eis aí o que explica a genialidade de Freud. Ele percebeu que, enquanto todos os corpos são feitos com as mesmas proteínas e elementos químicos, a mente é personalizada e única em cada individuo, daí a complexidade em compreende-la. Ela atua como ponto de intersecção entre a matéria e a abstração, recebendo estímulos e dando respostas adequadas a cada situação específica. Freud deu um tratamento diferenciado à mente quando compreendeu que pelo caminho do biológico e do químico não chegaria a lugar algum. Tratou a mente como um programa de computador que recebe comandos e opera respostas. Isso é visível em todos os seus conceitos.
Pedro Correia, sociólogo: E como a mente origina os comportamentos violentos?
44) Dr. x: Antes havíamos falado que a destrutividade humana mal resolvida e a perda do eixo cultural são fatores associados a violência. Juntando as duas coisas teremos como resultado a violência. Dissemos que a destrutividade é condição individual e inata. O homem nasce destrutivo para poder sobreviver. Essa destrutividade precisa ser lapidada nos primeiros anos de vida para se transformar em agressividade normal, que é o que patrocina a socialização, a convivência normal. A perda do eixo cultural, isto é, das normas de convivência ética nos grupos e entre indivíduos, origina o estilhaçamento das regras de convivência, a dissociação dos sentimentos, princípios e valores numa sociedade que já não mais reconhece ou usa suas funções coletivas. Um individuo que percebe o estilhaçamento das regras de convívio ético, torna-se reativo e suas respostas reativas podem se projetar no seu próprio corpo, nas relaçõs sociais e também no ambiente, com conteúdo destrutivo.
Apresentadora: O que o sr. chama de destrutividade humana mal resolvida?
45) Dr. x: A impossibilidade de resolver naturalmente a destrutividade através da socialização. A sociedade civilizada foi construída sob base antiética. Ela, ao contrario das sociedades naturais, prioriza os objetos e a produção. A pessoa fica num plano secundário. As crianças aprendem desde cedo que objetos são mais importantes do que pessoas; desaprendem a pensar coletivamente tornando-se individualistas.
Rubens Meira, psicanalista: Diante do exposto como ficam as instituições civilizadas e os sistemas de organização até agora existentes? Temos saída?
46) Dr. x: Não sei como responder essa pergunta. Mas lembrei agora de uma sabedoria ianomâmi que pode ser percebida na suas prática de convivência. Poderia ser traduzida assim: “a natureza humana é por demais frágil e nunca conseguirá lidar com grandes doses de poder”. O que as instituições civilizadas e os sistemas de organização têm como base? O que um individuo aspira com grande desejo para se sentir feliz? Dinheiro, poder mandar nos outros e sucesso, são desejos do homem civilizado? É muito difícil para nós pensar coletivamente e partilhar o poder com os outros. Ainda acreditamos que sendo individualistas alcançaremos a felicidade suprema e isso nos faz perpetuar uma sociedade antiética e violenta. Em compensação temos uma vida confortável, um conhecimento e uma tecnologia avançados e não compreendemos porque a violência existe.
E-mail de Livaldo, estudante: Estou precisando, com urgência, de sua opinião abalizada sobre "A
IMPORTÂNCIA DA IGREJA NO SOCIAL". Sou estudante e a faculdade deu este tema. Quase por unanimidade, os estudantes (já influenciados pelo professor) acham que as igrejas ou religiões, de um modo geral, prejudicam o seres humanos no tangente ao progresso e à liberdade. Como sei o quanto "os
religiosos" participam do social, gostaria que me ajudasse com um texto sobre o assunto. Estou-lhe pedindo isto porque sei de sua capacidade e convicto de que é um momento mais que oportuno para falarmos de Jesus e da grande necessidade da fé. Deverei apresentar o texto e falar sobre o assunto
na próxima segunda-feira. Obrigado em Jesus.
Obs.: Se conhecer algum site que contenha o artigo, também é válido. Naveguei a manhã toda e não consegui, daí meu pedido. Abraços. Livaldo
47) Dr. x: Não existem verdades absolutas. Todas elas são relativas e provisórias, pois cada pessoa as admite ou as rejeita segundo suas convicções e crenças individuais. Pessoalmente faço distinção entre os conceitos de "religião" e de "religiosidade". São conceitos completamente diferentes. Leia abaixo o trecho de um trabalho meu intitulado “A Origem da Violência”:
Religião e violência
No senso comum, religião é entendida como prática religiosa. Religião e religiosidade são conceitos completamente diferentes. Religiosidade é uma condição inata, um atributo que nasce com o homem, natureza construtiva que o impele para viver em paz, social e individualmente. Religião é instituição humana, criada por homens, cujo objetivo é cultuar entidades divinizadas (Deus, Buda, Alá, Maomé, etc) cultuadas como superiores á natureza humana. As religiões são instituições com ideologias polimorfas, com rituais diferenciados (culto, missa), com representantes personificados (pastor, padre, rabino) e com hierarquia e funcionamento semelhantes aos de uma empresa, no que se refere á administração de bens, estrutura de organização e objetivos a atingir. Algumas diferenças podem ser percebidas entre um conceito e outro, por exemplo:
 Religiosidade é condição atemporal, individual, inerente ao plano da imaginação e do sentimento; religião é temporal, grupal, ideológica, socialmente organizada.
 Religião se organiza por dogmas e hierarquia do grupo religioso; religiosidade se manifesta por atos mediados pelo bom senso (índole) individual.
 Religiosidade é manifestação desvinculada de interesses materiais e corporativos; religião é influenciada por esses fatores.
 Religião se origina da formação de classes numa sociedade (elites): governantes, sacerdotes, militares; religiosidade é uma condição intrínseca ao “modo de ser” espiritual de cada indivíduo.
 Religião e Estado são instâncias de poder numa sociedade, com influência política e com objetivos diversificados.
 Religião é conduzida por pessoas e pode levar á violência quando seus líderes mobilizam grupos para objetivos destrutivos (fanatismo).
Ser religioso significa ser bom e construtivo em relação a si mesmo e aos outros. É pensar e sentir coletivamente (“ama a teu próximo como a ti mesmo”), um princípio construtivo de eqüidade, solidariedade e justiça, condições dirigidas para a paz e harmonia. Pertencer a uma religião é associar-se a um grupo de homens que professam uma crença determinada, afiliar-se á uma instituição religiosa e seguir seus preceitos. Portanto, nem sempre o homem expressa sua religiosidade, ao pertencer a um grupo religioso. Ele pode usar o “rótulo religioso” para alcançar objetivos individuais ou de grupo. Portanto, a prática religiosa nem sempre está vinculada à religiosidade.
A condição de crença religiosa não necessita de conhecimento e nem de prova; a condição de conhecimento sim, pois é sempre uma verdade provisória, e como verdade (científica) é relativa e mutável. A condição da crença religiosa nem sempre é verdadeira, a não ser para o crente. Os determinismos científicos ou religiosos são condições que, levadas ao extremo, prejudicam o bom senso e alteram a convivência. As verdades existem espalhadas e não concentradas num só ponto. É necessário saber catá-las em toda a extensão do terreno. E podem ser misturadas, porque são compatíveis. O que seria dos olhos sem as pálpebras?
Como explicar a polimorfia religiosa e sua evolução desde os tempos do politeísmo na antigüidade, ao monoteísmo das sociedades civilizadas? Um dos preceitos fundamentais das religiões está contido na frase: “paz na Terra aos homens de boa vontade...”; pelo número escandalosamente grande de religiões que possuímos, por que esse objetivo ainda não foi alcançado? A religiosidade tem sido usada atualmente por algumas empresas que se auto-intitulam de “igrejas” para alcançarem metas financeiras. Será que a centralização numa entidade superior única (Deus, Jesus, Buda, Maomé) melhora a essência da religiosidade e se reflete no comportamento humano equilibrado?
Se não me falha a memória li um livro em que o historiador conta que foi Diocleciano, um imperador romano, quem criou e difundiu o primeiro conceito de Deus único e todopoderoso. Conta que, aconselhado por um sacerdote, criou um Deus que centralizasse todas as crenças numa única crença. Segundo o sacerdote isso lhe proporcionaria maior atenção e grande poder sobre o povo. Deveria dar-lhe um nome bastante significativo e proibir todas as outras crenças, decretando severas sanções para os que não obedecessem o seu decreto. Como vê, os sacerdotes e os dirigentes daquela época já sabiam como manipular as pessoas para aumentar seu poder.
Livaldo, você e todos os seres humanos possuem o direito de escolher suas próprias verdades. Nunca esqueça, porém, que elas são individuais...! Embora tenha nascido de uma família católica, optei por não me filiar a nenhuma das religiões existentes, pois acredito que todas elas foram criadas pelos homens; continuo fortalecendo minha religiosidade pois ela me faculta a oportunidade de ser construtivo e religioso no melhor sentido da palavra. Com ela consigo conviver bem com todos e me sentir feliz. Não acredito em ateu, pois esse é com certeza um blefe, uma condição incompatível com a natureza humana. Use sua crença com liberdade porque todo cidadão deve se sentir livre e feliz com suas verdades.
Apresentadora: O que o sr. chama de comportamento reativo pode ser aplicado ao fenômeno violento das guerras? Acha que foi justa a guerra contra Sadam Hussein empreendida por norteamericanos e ingleses com morte indiscriminada de civis?
48) Dr. x: Nenhuma guerra é justa. Governos historicamente colonialistas e intervencionistas engendram as guerras geralmente por motivos políticos, econômicos e/ou estratégicos. O comportamento reativo pode ser aplicado não só ao fenômeno das guerras mas ao comportamento alterado de um modo geral.
Acho mesmo possível que a morte indiscriminada de civis pode ser proposital, mesmo porque o ato cruel deixa marca e mensagem fortes. É como se dissessem “a desobediência de vocês pode causar a morte de muitos inocentes”. Uma forma brutal de dissuadir. Vejam que o mesmo método é usado por terroristas, pelo crime organizado, por líderes do narcotráfico e outros bandidos menores. O Estado, democrático ou não, pode usar os mesmos métodos, sobretudo os que sustentam orçamento militar alto.
Apresentadora: Quando surgiu, na história humana, o que o sr. chama de comportamento reativo ou violento?
49) Dr. x: Acredito ser muito difícil fixar uma data. Na pré-historia ele já deveria existir nos grupos de hominídeos, mas ficavam represados, dentro de cada grupo, pelo pensar e sentir coletivos. Como os territórios de caça e coleta era disputado entre grupos, provavelmente os conflitos entre eles ficasse restrito a sobrevivência e reprodução. Com o aparecimento da agricultura e da domesticação de animais, esses conflitos poderiam ter sido ampliados no sentido de proteger a produção obtida com essas técnicas. É provável que nessa época tenham surgido os primeiros assaltantes e saqueadores. Então o ato violento humano pode ter sido contemporâneo ao conflito entre o conceito de propriedade e o ato de roubar ou conquistar (apossar-se). A acumulação de bens e a apropriação deles por outros grupos pode ter gerado esses primeiros conflitos. Atualmente os grupos que assumem o poder nos paises, nem sempre de forma ética, podem, de modo relativamente fácil, impor seus objetivos, muitas vezes não coincidentes com os desejos da maioria do povo. Para mim uma forma mais adequada de governo para todos os paises ainda está por vir. Democracia, comunismo ou socialismo sempre serão mitos, enquanto o comportamento individual for excessivamente reativo e o pensar e o sentir coletivos não forem o objetivo central dos governos.
Mariângela Camargo, jornalista: Como o sr. observa o crime organizado e o narcotráfico atuando no país hoje e quais as soluções mais adequadas para combate-lo?
49) Dr. x: O crime organizado e o narcotráfico atuam sob os mesmos parâmetros de violência com que atuam os governos belicistas. Como foi dito antes: atuam em grupos, valorizam poder, dinheiro e fama e usam métodos de dissuasão semelhantes. Seus membros são pessoas fortemente reativas e agridem indiscriminadamente os governos e as sociedades.
Há três formas de combatê-lo: primeiro, usando seus próprios métodos para dissuadi-los. Segundo, eliminando ou atenuando com vigor as enormes diferenças sociais, permitindo o retorno da distribuição eqüitativa das oportunidades. Terceiro, compreendendo os fatores que estimulam o comportamento reativo nas pessoas e aprender com as comunidades o que está mobilizando esses comportamentos reativos.

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